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A Europa está preparada para a integração de migrantes e refugiados?

A Europa está preparada para a integração de migrantes e refugiados?

Papel do desporto na inclusão social esteve em debate na Cidade do Futebol.

A conferência internacional no âmbito do projeto SPIN – Sport Inclusion Network, subordinada ao tema “Inclusão no desporto de migrantes e refugiados numa Europa em transformação”, terminou este sábado, na Cidade do Futebol, com a realização de três mesas-redondas, que debateram o papel do desporto europeu na integração social.

O primeiro painel do segundo dia, constituído por Layla Mousa (UISP), Assunção Fernandes (Presidente da Associação de Solidariedade Assumada), Maria Machado (Comité Olímpico de Portugal) e David D’Agnelli (Liberi Nantes) analisou o envolvimento das mulheres no desporto e como promover as suas capacidades de liderança.

“O desporto tem o efeito mágico de nos envolver com a comunidade e é facilitador na integração dos refugiados. O objetivo do Comité Olímpico de Portugal é ajudar na inclusão de refugiados através do desporto. Para isso temos protocolos colaborativos com as entidades oficiais que estão ligadas a esta problemática: o Alto Comissariado para as Migrações, o Centro de Acolhimento para Refugiados, a Plataforma de Apoio aos Refugiados e a Câmara Municipal de Lisboa”, explicou Maria Machado.

Assunção Fernandes deu o exemplo de Alexandrina Barbosa, jovem que fez parte do projeto de andebol da Associação de Solidariedade Assumada, que é internacional portuguesa e joga no campeonato francês.

Em Itália, o Liberi Nantes, um clube que teve a primeira equipa de futebol transalpina constituída apenas por atletas refugiados, tem um projeto que se iniciou em fevereiro e terminará no próximo mês, como revelou David D’Agnelli:
“Trabalhamos com homens e mulheres, refugiados e exilados, desde os 15 anos de idade. É um projeto com quatro atividades: futebol, rugby touch, ginástica e outro desporto, sendo que o futebol é a que tem maior participação”. Nos próximos dois anos, será desenvolvido o projeto SPIN Women, dirigido às mulheres.
“No decorrer do projeto SPIN [que se iniciou em 2011], percebemos que um dos desafios mais importantes é o envolvimento das mulheres migrantes e refugiadas nas atividades desportivas. Existem muitas barreiras que as mulheres têm de ultrapassar”
, revelou Layla Mousa, representante da UISP, um dos parceiros do SPIN.

Uma perspetiva do futebol sobre a inclusão social

No segundo painel, a ex-jogadora nigeriana Cynthia Uwak, o ex-futebolista português Rebelo e o diretor do desporto da Universidade do Gana, Bella Bello Bitugu, discutiram se os atletas estão realmente envolvidos na inclusão social.

Rebelo, que atualmente integra a equipa do Sindicato dos Jogadores, deu o exemplo do Estágio do Jogador, organizado todos os anos pelo Sindicato, como um processo de inclusão social: “No Estágio do Jogador, conseguimos integrar refugiados na nossa equipa e eles sentem uma enorme felicidade por ter essa oportunidade. Estamos a ajudá-los a cumprir um sonho.”

Eleita por duas vezes como Melhor Jogadora Africana do ano e ex-nomeada para Melhor Futebolista do Mundo da FIFA, a nigeriana Cynthia Uwak confessou que se sentiu um pouco marginalizada por ter optado pelo futebol.
“É algo desafiante para uma mulher ser jogadora de futebol. Para a maioria da sociedade, as mulheres devem tratar das lides da casa e não foi fácil para mim ter optado pelo futebol. Comecei a jogar na rua, participei em alguns torneios e depois fiz o meu percurso, tendo chegado à Seleção A nigeriana”, explicou Cynthia.

O diretor do desporto da Universidade do Gana, Bella Bello Bitugu, sublinhou que “é redutor olhar para a mulher apenas numa perspetiva biológica. São seres humanos como os outros e não merecem sofrer as discriminações de que são alvo. Devem ter as mesmas oportunidades e o mesmo acesso dos homens.”

A conferência internacional “Inclusão no Desporto de Migrantes e Refugiados numa Europa em transformação” terminou com um debate entre Layla Mousa, Des Tomlinson (em representação da Federação Irlandesa de Futebol) e Kurt Wachter (coordenador do projeto SPIN).

Os três oradores perspetivaram o caminho a seguir no que diz respeito a uma inclusão desportiva sustentável em toda a Europa, nos próximos anos.

A Turquia, o Paquistão, o Uganda e o Líbano são, por esta ordem, os países do mundo que mais recebem refugiados. Perante estes dados, será que a Europa está preparada para acolher migrantes?

Kurt Wachter, coordenador do projeto SPIN, confessa que é difícil antecipar qual será a realidade nos próximos dez anos, mas apelou às organizações para trabalharem no apoio a migrantes e refugiados:
“Ao estar em Portugal, devo admitir que me sinto aliviado por ver o trabalho que tem sido desenvolvido nesta área.”

Tal como em Portugal, também na Irlanda tem sido desenvolvido um trabalho de integração de migrantes e refugiados, como explicou Des Tomlinson:
“Há uma parceria a nível estatal que leva à sustentabilidade da inclusão desportiva. Para desenvolvermos um caminho futuro, no que a este tema diz respeito, é necessário estabelecer parcerias que nos possam ajudar nessa tarefa.”

Coube a Joaquim Evangelista e a Kurt Wachter encerrar a conferência internacional “Sport Inclusion of Migrants and Refugees in a transforming Europe”. O presidente do Sindicato dos Jogadores agradeceu à Federação Portuguesa de Futebol por ter cedido a Cidade do Futebol para a organização deste evento e a todos os oradores e participantes desta conferência.

“Penso que saímos daqui com um maior compromisso em relação à inclusão social”, concluiu Joaquim Evangelista. O coordenador do projeto SPIN, Kurt Wachter, agradeceu ao Sindicato dos Jogadores pela organização do evento, que fechou mais uma etapa da iniciativa financiada pelo programa Erasmus+ da Comissão Europeia.

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